Mulheres são as mais afetadas fisicamente e socialmente. Dados mostram que cerca de 30% dos pacientes desenvolvem depressão e ansiedade. Pesquisadora na área de Urologia esclarece sintomas, tratamentos e ressalta que o problema pode ser um indicativo para diferentes situações, até mesmo para doenças neurológicas
No calendário de datas comemorativas no Brasil, um dia pouco conhecido é o 14 de março. Instituída como lei pelo Congresso Nacional no ano passado, a data celebra a conscientização da incontinência urinária. À época de sua criação, um dado chamou atenção: 5% dos brasileiros sofrem com problema.
No entanto, dados da Sociedade Brasileira de Urologia mostram que o distúrbio atinge cerca de 35% das mulheres, com mais de 40 anos e após a menopausa, e 40% das gestantes, afetando diretamente a qualidade de vida e autoestima.
Para esclarecer mitos e dúvidas sobre o assunto, a Dra. Maria Claudia Bicudo, que é Mestre e Doutora pela Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), e faz parte do Departamento de Disfunções do Trato Urinário da Sociedade Brasileira de Urologia de SP, falou sobre a importância do reconhecimento dos sintomas no dia a dia para que, assim, tenham o melhor diagnóstico e tratamento correto da doença.
Professora-colaboradora da disciplina de urologia da FMABC, e responsável pelo Grupo de Disfunção Miccional, a especialista lembra que a doença pode afetar a bexiga e a uretra (canal da urina), podendo estar associada a diversos problemas, inclusive neurológicos, como AVCs, mal de Parkinson e esclerose múltipla. As mulheres em todas as faixas etárias apresentam mais incontinência urinária quando comparada aos homens, entre as idosas pode chegar a 50% de mulheres com perda de urina.
1. Poderia detalhar o que é incontinência urinária?
A definição do termo pela Sociedade Internacional de Continência refere-se à perda de qualquer quantidade de urina, independentemente da quantidade. Ou seja, perder urina NÃO é o normal, independentemente da idade.
2. Quais as principais causas do problema?
A bexiga é um órgão que tem duas funções: armazenar a urina produzida constantemente pelos rins e esvaziar esse conteúdo produzido. A incontinência urinária ocorre na fase que a urina está sendo armazenada. Sendo assim, as causas para que a perda ocorra podem estar na bexiga, na uretra (canal da urina) ou ambos. Ou ainda, em mecanismos que afetem a sincronicidade entre bexiga contrair e o canal abrir para que a urina saia.
3. Quais são os sintomas e como as pessoas podem reconhecer o problema?
O principal sintoma é a manifestação da própria perda de urina. O momento em que essa perda se manifesta pode estar associado ao tipo de incontinência urinária e isso é algo muito importante para definir o tratamento.
A perda pode acontecer relacionada ao esforço, como uma tosse, espirro, ou seja, quando ocorre um aumento da pressão dentro do abdome. Pode se manifestar por meio da urgência, da vontade imperiosa de urinar, ou até de forma mista por esforço e urgência. A perda também pode ser contínua quando existe uma comunicação da bexiga com a vagina ou até por transbordamento, quando na verdade a pessoa tem problema no esvaziamento e a bexiga transborda.
4. A incontinência urinária é mais comum em homens ou em mulheres?
A incontinência urinária é mais frequente nas mulheres do que nos homens, e isso está relacionamento a uma condição anatômica. A mulher tem a uretra (canal da urina) menor, além disso o mecanismo de contenção da urina (esfíncter) que “mantém a torneira fechada”, está exposto a diversos fatores ao longo da vida da mulher que compreendem maior risco de incontinência, como: gravidez, partos e obesidade. Alguns estudos epidemiológicos mostram que a prevalência dos casos de incontinência pode chegar até 70% nas mulheres dependendo da definição de perda adotada. Entre as mulheres idosas, esse índice pode chegar a 50%. Então temos muitas mulheres com incontinência e embora frequente, NÃO é normal!
5. Existe diferença nos sintomas e no tratamento dado para o problema, na comparação entre homens e mulheres?
Os sintomas estão relacionados mecanismo de perda, seja associado ao esforço ou urgência. No homem, a incontinência geralmente está associada a questões relacionadas à próstata
6. Outras doenças podem ocasionalmente provocar incontinência urinária?
A incontinência é a manifestação da perda de urina e diferentes situações que acometem o trato urinário podem levar a isso. Doenças que afetem a próstata, a bexiga, a uretra (canal da urina), além de questões neurológicas que podem impactar a sincronização do mecanismo de armazenar e esvaziar, como AVC, mal de Parkinson, esclerose múltipla e, podem se manifestar da mesma forma.
7. Quais implicações um(a) paciente pode ter ao não tratar a incontinência urinária?
Na realidade, a incontinência urinária afeta mais a qualidade de vida do que traz um problema mais grave ao paciente, entretanto estabelecer o mecanismo de perda é fundamental para definir riscos.
8. A incontinência urinária pode sinalizar algo mais grave?
Via de regra, são condições que não sinalizam nada mais grave, mas é sempre importante entender o mecanismo de perda. Algumas condições neurológicas, como a esclerose múltipla, por exemplo, a questão urinária pode ser um dos primeiros sintomas, o que mostra que a investigação é muito importante.
9. Quais são os tratamentos atuais e mais adequados para acabar com o problema?
Definir o tipo de incontinência é fundamental, para definir o melhor tratamento. Os tratamentos podem ser mais ou menos invasivos conforme a gravidade do problema.
O tratamento conservador envolve alterações no estilo de vida, orientação com ingestão de líquidos, diminuir o consumo de bebidas e alimentos que sejam irritantes para a bexiga, como por exemplo o café. E também, a fisioterapia do assoalho pélvico com uma série de exercícios para fortalecer a musculatura dessa região. Pode-se utilizar medicamentos orais com foco de ação na bexiga e tratamento da urgência e, tratamentos mais invasivos que compreendem cirurgias, injeção de toxina botulínica e implantes de dispositivos.
10. Gostaria de acrescentar outras informações?
Dia 14 de março é uma data de conscientização aos sintomas da incontinência urinária. Embora seja extremamente frequente que se manifeste, especialmente em indivíduos mais idosos, não é um sintoma normal.
Sendo assim, caso apresente perda de urina procure atendimento médico para entender qual é o mecanismo que está levando para essa perda, qual o impacto que isso pode trazer e buscar a melhor alternativa de tratamento.
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