O artigo, publicado no site Academia de Medicina foi escrito pelo presidente da SBU-SP, Dr. Geraldo Faria.
A Urologia é uma das dez especialidades com maior ocorrência da síndrome de Burnout (SB), figurando em primeiro lugar quando o critério é a gravidade dos sintomas. No último congresso da American Urological Association, realizado em Chicago, o tema foi destaque em uma sessão plenária. Sem dúvida, o assunto merece reflexão e constitui um desafio a ser enfrentado pelas sociedades médicas, que deverão incluí-lo obrigatoriamente na pauta de seus próximos congressos.
O termo foi utilizado pela primeira vez em 1974 por Herbert Freudenberger, psicanalista alemão, quando observou que seu trabalho já não lhe trazia o mesmo prazer de outrora, relacionando a sensação de esgotamento à falta de estímulo originado da escassez de energia emocional. Além desses sintomas, Freudenberger incluiu fadiga, depressão, irritação e inflexibilidade como pertencentes ao quadro sintomatológico da SB.
Em 1981, as psicólogas americanas Christina Maslach e Susan Jackson classificaram a SB como decorrente de um estresse intenso e contínuo provocado pelo trabalho. Em 1999, Christina Maslach e Michael Leiter criaram o Maslach Burnout Inventory (MBI) e deram à SB sua definição e caracterização final: uma síndrome ligada ao trabalho caracterizada por exaustão emocional, despersonalização e falta de realização profissional.
Diversos estudos têm demonstrado que as profissões que demandam alto nível de estresse no dia a dia são mais suscetíveis, particularmente as relacionadas com a área da saúde. Especificamente na Medicina, a incidência da SB é crítica: mundialmente, está presente em cerca de 50% dos médicos; um terço deles é afetado de maneira considerável e um décimo de forma grave.
Pesquisa realizada em 1998 pela Canadian Medical Association, analisando as respostas de 3.520 profissionais que atuavam no Canadá, identificou um cenário preocupante: 62% opinaram que tinham uma carga de trabalho muito pesada; 55% relataram que sua família e vida pessoal estavam deterioradas porque tinham escolhido a Medicina; e 65% tinham desejo de mudar de profissão, mas viam oportunidades limitadas para concretizar esta intenção.
Em 2017, a revista The Lancet publicou um editorial intitulado “Suicide among health-care workers: time to act” afirmando que, no Reino Unido, o burnout médico atingira proporções epidêmicas e que o problema não era exclusivamente britânico, nos EUA, por exemplo, havia uma taxa de suicídios de 400 médicos por ano, marca superior ao dobro das ocorrências entre a população geral.
Os sintomas de burnout e de arrependimento em relação à escolha da carreira são comuns entre os médicos residentes do segundo ano (R2) nos EUA, variando de acordo com a especialidade. Estudo publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) indicou que, no geral, 45% dos residentes R2 relataram sintomas de burnout e 14% sentiam-se arrependidos de terem escolhido a carreira médica.
O I Encontro Nacional dos Conselhos de Medicina promovido em 2017 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em parceria com as sociedades de especialidades divulgou dados da prevalência da SB na população médica brasileira. Segundo a pesquisa realizada entre médicos de diversas áreas do país, 45,8% relataram sintomas sugestivos da SB em algum momento de suas carreiras. As causas estavam relacionadas com jornada de trabalho estressante por alta carga de dedicação semanal, baixa remuneração, interferência de planos de saúde em suas condutas, condições de trabalho ruins no setor público e ausência de margem mínima de erro, além de constantes ameaças de processos e agressões contra os médicos. Da mesma forma, o relatório Medscape 2018, que avaliou o estilo de vida e a incidência de burnout médico no Brasil, confirmou estas queixas e acrescentou outros agravantes, como desrespeito por parte dos chefes, empregadores e pacientes, além de excesso de tarefas burocráticas.
Artigo originalmente publicado, aqui
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