Quando falamos da saúde masculina, em geral, sabemos que culturalmente o homem cuida menos da saúde do que a mulher.
É comum receber pacientes no consultório que não procuram médicos de maneira preventiva, somente quando apresentam alguns sintomas mais graves.
No caso do câncer de testículos, cujo risco está associado à história familiar, de acordo com dados da Associação Europeia de Urologia (EAU), em 2025 ele representou 1% das neoplasias nos homens adultos e 5% dos tumores urológicos. É estimado três a dez novos casos por 100.000 homens/por ano nas sociedades ocidentais.
Já no Brasil, calculam-se 2,4 casos em 100.000 habitantes, segundo os últimos dados de 2022 da Agência Internacional para pesquisas em câncer (Globocan).
Com aspecto hereditário, homens com parentes de primeiro grau que apresentaram a doença tem risco aumentado. Além de outras condições que compõe a Síndrome da Disgenesia Testicular (TDS): criptorquidia, hipospadia, diminuição da espermatogênese e fertilidade.
Algumas alterações do desenvolvimento sexual também figuram como fator de risco. Importante dizer que adolescentes e jovens adultos, especialmente entre 15 e 35 anos, estão entre os que apresentam incidência aumentada para alguns tipos de tumor testiculares. Outros subtipos mais raros podem acometer homens de idade superior a 60 anos.
O quadro clássico caracteriza-se por nodulação no testículo, podendo ou não ser dolorosa. É comum o paciente apresentar algum trauma na região e, portanto, prestar mais atenção na área e, ao exame, notar alguma alteração.
Outros sintomas como dor e inflamação local também servem de alerta, apesar de não serem os mais característicos.
Em casos avançados, o paciente pode procurar auxílio médico por desconforto abdominal, principalmente lombar, e até por falta de ar ou tosse.
A detecção precoce é responsável pelas altas taxas de cura, em torno de 95% se tratado no estágio inicial, principalmente se não for necessária uma terapia adjuvante.
Fazendo o seguimento adequado, este paciente está apto para manter suas atividades diárias e laborais normalmente.
Quando o paciente é diagnosticado em um estágio mais avançado, mesmo com taxas de cura ainda altas, os efeitos colaterais do tratamento podem impactar na qualidade de vida.
Impactos na fertilidade e tratamento
Quando falamos de câncer de testículo, a infertilidade é um fator de risco e um efeito colateral do tratamento.
Porém, o tratamento cirúrgico como a orquiectomia (retirada do testículo doente), de forma isolada, não provoca infertilidade, apesar de apresentar uma queda na produção de espermatozoides.
Já os casos que necessitam de tratamento complementar com quimioterapia, radioterapia ou complementação cirúrgica mais abrangente, apresentam um impacto importante na produção de espermatozoides, levando à infertilidade, transitória ou permanente. Nesse cenário, é importante o aconselhamento familiar ao paciente, com o oferecimento de criopreservação de sêmen antes do início do tratamento, de maneira a não atrasar o plano de tratamento.
O primeiro passo no tratamento sempre é a orquiectomia do testículo acometido. Após a cirurgia, esse material é enviado para avaliação do tipo de tumor, junto a uma análise patológica. Esse estudo fornece ainda algumas informações de prognóstico que serão determinantes para o tratamento adjuvante.
O câncer de testículo apresentou uma mudança no seu tratamento adjuvante com a introdução da quimioterapia, o que proporcionou melhorias no tratamento, seguimento e sobrevida dos pacientes, mas este não é um tratamento isento de complicações precoces e tardias.
Mais recentemente, outra modalidade de tratamento adjuvante à orquiectomia tem sido discutida: a linfadenectomia retroperitoneal primária. Esta modalidade cirúrgica, em alguns casos, pode substituir a quimioterapia/radioterapia.
A cirurgia pode ser feita de maneira aberta, laparoscópica ou robótica. Tem baixas taxas de complicações, principalmente se feita pela via minimamente invasiva (laparoscópica/robótica), com estudos recentes mostrando sangramento mínimo e alta hospitalar precoce de dois a três dias, além de rápido retorno ao trabalho. Esta estratégia cirúrgica visa evitar ao máximo a exposição dos pacientes aos efeitos tóxicos, tanto agudos quanto crônicos, da quimioterapia e radioterapia.
A longo prazo, estes pacientes podem apresentar sinais e sintomas relacionados aos efeitos colaterais dos quimioterápicos sistêmicos ou até da radioterapia local, com relatos recentes mostrando perda na qualidade de vida em certos casos. As literaturas mais atualizadas não identificaram nenhuma prática que possa evitar a doença, tornando o papel da conscientização essencial.
Tornar o homem responsável pela sua saúde, conhecendo seu corpo, fazendo o autoexame dos testículos mensalmente, é a prática mais eficaz na prevenção, não só para o câncer de testículo, mas para a saúde como um todo.
As campanhas de conscientização têm como objetivo trazer esse homem para o centro do cuidado, informando sobre doenças e sintomas, incentivando assim a detecção precoce e o tratamento oportuno, sem sequelas ou desfechos ruins.
Autores:
- Roberto Dias Machado, urologista, Coordenador do Serviço de Uro-oncologia (Hospital de Amor de Barreto) e do Departamento de Uro-Oncologia da Sociedade Brasileira de Urologia de SP – SBU-SP;
- Isabelle Yukari Maruoka é Fellow do Serviço de Uro-Oncologia (Hospital de Amor 2025);
- Guilherme Cerqueira Gonzales é Fellow do Serviço de Uro-Oncologia (Hospital de Amor 2025);
- Paloma Menezes de Souza é Fellow do Serviço de Uro-Oncologia (Hospital de Amor 2025).