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Brasil registrou nos últimos 10 anos média superior a 600 amputações de pênis/por ano

Fimose e lesões pelo HPV (papiloma vírus humano) estão entre as principais causas evitáveis, sendo que a primeira pode aumentar a chance desse câncer em 16 vezes

Durante o mês de fevereiro, na capital e no Estado de São Paulo, ações são realizadas para alertar e conscientizar a população, homens e mulheres, sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de pênis. É uma doença rara, porém agressiva, em que o tratamento pode ser mutilante e devastador para a qualidade de vida dos pacientes.

A doença impacta muito a vida das famílias como um todo, deixando sequelas orgânicas, ou seja, perda do órgão, problemas urinários, inchaços /edemas permanentes nas pernas, assim como traumas emocionais de difícil controle.

“Desta forma, é muito importante que as mulheres também se informem e participem, pois podem incentivar os maridos para que procurem atendimento para a detecção precoce, assim como  auxiliar e conduzir seus filhos para os cuidados com fimose na infância, e apoiar os idosos, principalmente pacientes acamados que necessitam de cuidadores”, analisa o Dr. Roberto Dias Machado, Coordenador do Departamento de Uro-Oncologia SBU-SP, e atual  Coordenador do serviço de Urologia do Hospital do Amor de Barretos.

O Brasil figura entre os países que possuem as mais elevadas taxas de incidência e morte pela doença. Cerca de 2% dos tumores que acometem os homens, são relacionados a esse tipo de câncer. “Esta incidência varia de acordo com as regiões do Brasil, a mais alta é em regiões pobres, entre populações de baixa escolaridade e entre habitantes da zona rural, onde existe uma dificuldade maior de acesso, aos sistemas de saúde e as informações de saúde”, diz Machado.

A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e todas suas seccionais, estão empenhadas nesta campanha com o objetivo de levar informações de qualidade a toda população. No Brasil, muitos homens nunca ouviram falar sobre a doença, sendo assim não conhecem os fatores de riscos e não sabem como preveni-la. Médicos esclarecerão dúvidas sobre a doença nas redes sociais da entidade no Instagram, Facebook e Tik Tok (@portaldaurologia).

Incidência

Últimos dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde mostram que de 2012 a novembro de 2022 foram registrados mais de 21 mil casos de câncer de pênis no país; de 2013 a 2023, mais de 6 mil amputações; e de 2011 a 2021, mais de 4 mil mortes devido à doença.

Ano Registros de casos de câncer de pênis
2012 1.822
2013 1.754
2014 1.902
2015 1.961
2016 1.969
2017 1.999
2018 2.134
2019 2.156
2020 2.064
2021 2.072
2022 1.933*
Total 21.766

Fonte: SIH/SUS

* Dados até novembro de 2022

Ranking nos países

Neste estudo, abaixo, de 2017, o Brasil ficou em terceiro lugar em incidência, enquanto Romênia e Uganda ocupam as primeiras posições.

Fonte: Montes Cardona CE, García-Perdomo HA. Incidence of penile cancer worldwide: systematic review and meta-analysis. Ver Panam Salud Publica. 2017 Nov 30;41:e117. Doi: 10.26633/RPSP.2017.117. PMID: 31384255; PMCID: PMC6645409. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6645409/

“Um dos cânceres mais preveníveis e que depende quase que exclusivamente das atitudes e cuidados do homem com sua saúde. Acomete principalmente homens acima dos 50 anos, de baixo índice socioeconômico e higiene precária. A fimose e lesões pelo HPV (papiloma vírus humano) estão entre as principais causas evitáveis, sendo que a primeira pode aumentar a chance desse câncer em 16 vezes. A vacina contra o HPV pode ser um aliado na prevenção”, afirma o médico.

O médico diz ainda que lesões no pênis que não melhoram em até quatro semanas, com tratamento local e/ou medicamentoso devem ser biopsiadas para descartar câncer. “Mesmo sendo raro, representa 2% de todos os tumores que atingem os homens. O câncer de pênis, em fases mais avançadas, pode levar à perda total do órgão, com impacto direto na vida sexual e emocional dos pacientes. Além disso, pode infiltrar localmente os órgãos adjacentes ao pênis, pode se espalhar pelo corpo através dos vasos linfáticos e sanguíneos, dando lesões à distância (metástases), onde compromete a cura da doença, inclusive com chances de óbitos”.

Sintomas e fatores de risco

O câncer de pênis é mais incidente em homens a partir dos 50 anos, mas também pode atingir os mais jovens. Geralmente a doença se manifesta por meio de sinais como:

– Ferida que não cicatriza;

– Secreção com forte odor;

– Espessamento ou mudança de cor na pele da glande (cabeça do pênis);

– Presença de nódulos na virilha.

 

Entre os fatores de risco estão:

– Baixas condições socioeconômicas;

– Má higiene íntima;

– ⁠Fimose (estreitamento da pele que recobre o pênis);

– Infecção pelo vírus HPV (papilomavírus humano);

– Múltiplas parceiras sexuais

– Tabagismo.

– Zoofilia (sexo com animais)

 

Amputações

Quando diagnosticado tardiamente, o câncer de pênis pode acarretar amputação do órgão. Números do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS) do Ministério da Saúde apontam que nos últimos dez anos o país atingiu a média de 645 pênis amputados por ano e mais de 6 mil casos de amputação.

Ano Número de amputações por câncer de pênis
2014 627
2015 634
2016 621
2017 653
2018 683
2019 702
2020 619
2021 627
2022 639
2023 651
Total 6.456

Fonte: SIH/SUS

Mortalidade

De acordo com o Atlas de Mortalidade do Instituto Nacional de Câncer (Inca), de 2011 a 2021 foram registradas 4.592 mortes em razão do câncer de pênis. Em 2021 (último ano com dados disponíveis no sistema), foram contabilizadas 478 mortes. A faixa mais atingida é de 60 a 69 anos.

Atlas de Mortalidade do Instituto Nacional de Câncer (Inca), de 2011 a 2021

Já este estudo publicado em 2022 aponta que mais de 13 mil homens morreram devido à doença em 2020 no mundo, o que corresponde a 0,29 casos por cada 100.000 habitantes. As maiores taxas de mortalidade por idade relativas a 2020 ocorreram em dois países africanos: Eswatini (3,5 por 100.000) e Uganda (2,4 por 100.000). E o maior número de mortes, também registrados em 2020, foi o seguinte: Índia (4.760), China (1.565) e Brasil (539).

 

Fonte: Fu L, Tian T, Yao K, Chen XF, Luo G, Gao Y, Lin YF, Wang B, Sun Y, Zheng W, Li P, Zhan Y, Fairley CK, Grulich A, Zou H. Global Pattern and Trends in Penile Cancer Incidence: Population-Based Study. JMIR Public Health Surveill. 2022 Jul 6;8(7):e 34874. Doi: 10.2196/34874. PMID: 35793140; PMCID: PMC9301560. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9301560/

Prevenção

Apesar desses números preocupantes, o câncer de pênis é um tipo de tumor altamente prevenível por meio de ações como:

– Higiene diária adequada do pênis com água e sabão puxando o prepúcio;

– Lavagem da região íntima após as relações sexuais;

– Vacinação contra o HPV (disponível no SUS para a população de 9 a 14 anos e imunossuprimidos até os 45 anos);

– Postectomia (retirada do prepúcio) nos casos em que ele não permite a higienização correta;

– Uso de preservativo para evitar contaminação por ISTs como o HPV.

– Combater o tabagismo

Estima-se que o Brasil tenha de 9 a 10 milhões de pessoas infectadas pelo HPV e que, a cada ano, 700 mil casos novos da infecção surjam. A faixa etária de maior incidência é abaixo de 25 anos. Daí a importância da vacinação.

 

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