A análise contou com uma base de mais de 25 milhões pessoas e revelou a prevalência de patologias comuns nesse público, como doença arterial coronariana/hiperlipidemia, hipertensão, diabetes tipo 2 e osteoartrite
Julho de 2024 – No mês dedicado ao público masculino, a Sociedade Brasileira de Urologia de SP (SBU-SP) aproveita o período para alertar sobre a importância do diagnóstico precoce para controle da saúde durante todo o ano, bem como os impactos da HPB na rotina do homem. Comumente, e até culturalmente, muitas pessoas caem no erro de esperar os sinais de alerta para tomar alguma atitude.
Levantamento feito pela SBU Nacional revelou que apenas 46% dos homens só procuram ao médico quando sentem algo. Cerca de 70% deles vão atrás de atendimento por influência e pressão da esposa e dos filhos. Outro dado alarmante é que, apenas 32% dos homens acima dos 40 anos estão preocupados com a própria saúde.
Além disso, esses dados ganham uma complexidade maior quando falamos das doenças que mais acometem o público masculino: 24% sofrem com pressão alta, 26% estão sedentários e 12% são obesos. Por isso, a necessidade da realização de exames regulares e o hábito de manter uma vida saudável para desfrutar de uma longevidade tranquila e com qualidade de vida.
Isso porque os cuidados com a saúde devem ser constantes, e datas como essas têm o caráter de lembrar os homens do que eles precisam se preocupar. “Não devemos esperar pelos sintomas, pois muitas vezes quando eles aparecem, a doença pode estar num estágio avançado. A alta frequência com que as patologias da próstata ocorrem exige uma busca ativa por parte dos pacientes para que possamos nos antecipar aos problemas”, diz o urologista, Dr. Alberto Azoubel Antunes, professor Livre-docente e Associado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Ele que é Chefe do Setor de Próstata da Divisão de Urologia da FMUSP, esclarece abaixo as dúvidas mais comuns sobre a hiperplasia prostática benigna (HPB), doença comum entre os homens, porém ainda pouco falada.
1- HPB pode ser genético?
O papel da hereditariedade no desenvolvimento da HPB parece ser real. Estudos apontam que gêmeos idênticos tem um risco 3,3 vezes maior do que gêmeos diferentes de apresentarem HPB quando um dos elementos é portador do problema. Ademais, as chances cumulativas de cirurgia próstática são de 66% e 17% em filhos de indivíduos com e sem HPB, respectivamente.
Recentemente, um estudo britânico avaliou um banco de dados com mais de 500.000 homens e identificou que quando alterações genéticas específicas estavam presentes, entre 35 e 40% dos indivíduos apresentavam HPB. Na ausência dessas alterações genéticas o diagnóstico da HPB só ocorreu em cerca de 10% dos homens.
2- Existe alguma possibilidade de prevenção?
Atualmente, aceita-se que fatores modificáveis estão relacionados com o desenvolvimento da HPB. A obesidade e a síndrome metabólica (SM), representadas pela associação de hipertensão, diabetes e dislipidemia, têm sido associadas com um aumento do risco de desenvolvimento de sintomas urinários e HPB em vários estudos observacionais.
Dentre os 2.372 homens que participaram de um grande estudo americano, aqueles que possuíam ao menos 3 componentes da SM apresentavam uma elevação de 80% no risco de desenvolverem sintomas urinários quando comparados com aqueles que não possuíam nenhum componente da síndrome.
Outro estudo examinou um grupo de 158 pacientes com HPB, e notou que homens com algum componente da SM possuíam próstatas com volume maior e taxas de crescimento anuais de HPB mais elevadas. Finalmente, atividades físicas regulares e ingestão moderada de álcool parecem atenuar as manifestações clínicas indesejáveis da HPB.
3- Quais os sintomas iniciais? Existe algum risco de vida?
Apesar da HPB raramente estar associada a um risco real de óbito, ela representa a causa principal de sintomas urinários no homem maduro, comprometendo de forma substancial sua qualidade de vida. Os pacientes com HPB apresentam manifestações que podem ser divididas em sintomas de esvaziamento (obstrutivos) e sintomas de armazenamento (irritativos).
Os primeiros estão representados principalmente por esforço miccional, hesitação, gotejamento terminal, jato fraco e sensação de esvaziamento incompleto. Já os principais sintomas de armazenamento são a urgência, o aumento da frequência urinária e a necessidade de acordar a noite para urinar.
Os sintomas obstrutivos, presentes em 70 e 80% dos casos, resultam do efeito mecânico da massa prostática sobre o canal da uretra. Estes quadros quase sempre desaparecem com o tratamento cirúrgico. Os sintomas irritativos surgem por reação da bexiga à obstrução uretral, com manifestações, presentes em 50 a 70% dos pacientes, que nem sempre desaparecem após intervenção cirúrgica local.
4- Qual a incidência de casos? Teria dados recentes na população brasileira e mundial?
Quando consideramos um conceito histológico, vemos que, aos 60 anos, cerca de metade dos homens apresentam alterações prostáticas compatíveis com HPB e, virtualmente todos por volta dos 80 anos serão acometidos. No entanto, a maioria desses homens não irá apresentar sintomas relacionados à doença. A presença de sintomas é evidenciada em cerca de um terço dos homens por volta dos 60 anos e em cerca de metade ao redor dos 80 anos.
5- Quais os tipos de tratamento?
O tratamento da HPB é feito com o objetivo de aliviar as manifestações clínicas e corrigir as complicações relacionadas com ao crescimento prostático. Do ponto de vista prático, pacientes com quadro de sintomas leves que não incomodam devem ser apenas acompanhados periodicamente. Mudanças comportamentais como restrição de líquidos, troca de medicamentos de uso rotineiro e mudanças no hábito urinário são geralmente suficientes.
Já casos com sintomas e desconforto moderados devem receber terapêutica medicamentosa ou podem ser submetidos a terapia minimamente invasiva, representada por métodos que geralmente não requerem internação hospitalar. Finalmente, os pacientes com manifestações clínicas exuberantes devem ser tratados cirurgicamente. Ademais, as intervenções cirúrgicas devem ser realizadas mandatoriamente nos casos de HPB associados complicações como retenção urinária, insuficiência renal, infecção urinária recorrente, sangramento urinário refratário, incontinência urinária paradoxal e cálculo vesical.
A simples presença de um aumento prostático sem uma sintomatologia significativa se constitui uma indicação inconsistente para se indicar qualquer forma de tratamento.
6- É comum a recidiva?
Falamos em recidiva quando os pacientes são submetidos ao tratamento intervencionista, com métodos minimamente invasivos ou com a cirurgia ablativa. Com relação aos primeiros, as taxas de recidiva são normalmente mais comuns. Isso se deve ao fato destes métodos removerem pouco ou nenhum tecido prostático, e desta forma, a próstata pode voltar a crescer.
Por outro lado, com o tratamento cirúrgico, normalmente todo tecido da zona central da próstata é removido e as taxas de recidiva são menores. Estudos populacionais americanos revelam que as taxas de recidiva em 5 anos com métodos minimamente invasivos variam de 17 a 25% e com o tratamento cirúrgico variam de 7 a 12% a depender da técnica utilizada.
7- É um problema que afeta muitos os homens comparados a outras doenças?
A HPB está entre as doenças mais comuns dos homens maduros. Um estudo americano retrospectivo avaliou as 10 doenças mais prevalentes diagnosticadas em homens com mais de 50 anos. Para isso utilizou informações do banco de dados nacional com dados de 30 planos de saúde cobrindo mais de 25 milhões de vidas. Segundo dados levantados, as doenças mais comuns, diagnosticadas em homens com mais de 50 anos de idade em ordem decrescente são a doença arterial coronariana/hiperlipidemia, seguida de hipertensão, diabetes tipo 2, HPB e osteoartrite.