A litíase urinária (pedra nos rins) é uma doença frequente no dia-dia dos urologistas, atingindo ao redor de 10% da população. Pode acometer todas as idades, gêneros e sua ocorrência vêm aumentando entre as mulheres.
Especificamente durante a gestação, as mulheres têm alterações bem conhecidas no sistema urinário. Ocorre uma dilatação fisiológica nas vias urinárias principalmente à direita, devido ao aumento do útero e elevação na produção de um hormônio chamado progesterona. Este processo pode levar à estase (represamento) de urina que predispõe maior agregação de cristais formadores das pedras. Além disso, a produção de uma substância chamada 1,25 hidroxicolicalciferol pela placenta eleva a presença de cálcio na urina que eleva o risco do desenvolvimento de litíase urinária. Felizmente, existe o aumento na produção de citrato (que é um elemento de proteção contra formação das pedras) e isso equilibra a situação. Sendo assim, não significa que as mulheres tenham maior chance de formar pedras durante a gravidez. Porém, o manejo da gestante com litíase é muito particular e exige cuidados diferenciados.
Habitualmente, a gestante apresenta dor lombar e abdominal decorrente de sobrecarga ortopédica, músculotendínea e do peso uterino principalmente após o 2º trimestre da gravidez. Quando ocorre agudização de quadros de dor e exacerbação na região lombar, o diagnóstico de cólica renal deve ser cogitado, principalmente em mulheres com história prévia de litíase. Outros sintomas podem ser hematúria (sangue na urina) e quadros de infecção urinária. Febre associada pode significar um quadro de pielonefrite aguda que agrava a situação e eventualmente traz consequências à gestação, como partos prematuros e quadros infecciosos mais preocupantes à saúde da mãe.
Na suspeita de litíase deve-se realizar exame de urina e cultura para descartar infecção e um exame de imagem. A tomografia computadorizada é muito utilizada na investigação de litíase urinária, devido sua alta sensibilidade e especificidade no diagnóstico das pedras. Porém, este método emite irradiação que pode trazer algum problema ao desenvolvimento da criança. Sendo assim, o médico deve ter atenção ao solicitar determinados exames que possam ser danosos ao curso da gestação, à mãe ou ao bebê.
Inicialmente realiza-se ultrassonografia que é um excelente método diagnóstico e inócuo para a paciente e criança. Caso não se consiga diagnóstico com este exame, deve-se discutir com a paciente o risco e benefício da realização de outros exames que emitem um certo grau de irradiação.
Feito diagnóstico de litíase, a preferência é sempre tratar de forma conservadora com medicação e aguardo pela eliminação espontânea da pedra, a fim de evitar cirurgias neste momento. Quando houver necessidade de intervenção, atualmente é realizada através de técnicas endourológicas que são seguras para a mãe e o bebê. Pode ser um procedimento para retirar a pedra ou apenas passagem de um cateter ureteral para desobstruir o rim. Atenção também deve ser dada ao tipo de anestesia utilizada, considerando o período gestacional. Na gravidez, este cateter deve ser trocado a cada 4-6 semanas para evitar calcificação do mesmo. A intensidade da dor, grau de dilatação do rim, tamanho da pedra e idade gestacional orientam qual tratamento deve ser seguido.
Uma recomendação é que mulheres portadoras de litíase urinária e que planejam gravidez, devem tratá-las antes para evitar que as pedras possam crescer ou trazer problemas durante o curso da gestação.
Dr Antonio Corrêa Lopes Neto CRM 81986
Coordenador do Depto de Litíase Urinária e Endourologia da SBU-SP