Dados inéditos do Ministério da Saúde apontam que nos últimos seis anos a doença foi responsável por quase 14 mil internações no SUS. Comum em adolescentes, estima-se que o problema interfira em 40% dos homens adultos com o diagnóstico
Setembro de 2024 – Característico em jovens entre 15 e 25 anos, a varicocele pode impactar a fertilidade na fase adulta e acarretar danos para a vida toda. Ainda pouco difundida na população leiga, a Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo faz um alerta importante sobre o assunto e chama atenção para a importância do diagnóstico precoce, ainda na infância. A ida ao urologista, e o acompanhamento da família, são fundamentais para desfechos favoráveis, já que se tratada a tempo e corretamente, pode melhorar o prognóstico e as chances de cura/controle da doença
A varicocele é uma dilatação das veias de drenagem dos testículos, que ficam dentro do escroto ou bolsa testicular. “Essas veias, uma vez aumentadas, podem causar dor, inchaço e, em alguns casos, problemas de fertilidade, pois afetam a produção de espermatozoides”, explica o urologista, o Dr. Leonardo Eiras Messina, do Departamento de Saúde Sexual Masculina da SBU-SP.
De acordo com dados mundiais, o problema atinge cerca de 15% a 25% dos homens, sobretudo no público jovem, porém, pode acometer em qualquer faixa etária. Contudo, apresenta uma tendência maior de se desenvolver durante a puberdade, que é quando o corpo e os órgãos reprodutivos estão crescendo rapidamente. Segundo o especialista, a hereditariedade pode ser sim um fator de risco associado ao aparecimento da doença.
“Estudos sugerem que a predisposição genética pode desempenhar um papel significativo na ocorrência dessa condição. Se um homem tem familiares próximos com varicocele, ele pode ter uma maior probabilidade de desenvolver a doença”, diz Messina.
De cada 100 homens, com varicocele, cerca de 20 vão ter prejuízo da fertilidade. Dados do Ministério da Saúde, obtidos com exclusividade pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) apontam que nos últimos seis anos (2019 a junho de 2024), a varicocele gerou 6.031 consultas e 13.921 internações no SUS, em razão da doença na população de 12 a 50 anos. Os dados mostram ainda que, a maioria das consultas de diagnóstico e cirurgias se dá na faixa etária de 31 a 40 anos, fase em que o homem pode estar tentando engravidar sem sucesso.
Para incentivar o cuidado com a saúde entre os adolescentes masculinos, a SBU realiza em setembro a 7ª edição da campanha #VemProUro. O foco deste ano é alertar para o diagnóstico precoce da varicocele. Nas redes sociais (@portaldaurologia), posts, vídeos e lives vão esclarecer outras dúvidas comuns entre os meninos, como fimose, tamanho do pênis, vacinação contra o HPV, uso de cigarro eletrônico, anabolizantes e preservativo.
Entre os principais sinais e sintomas, Dr. Leonardo alerta para dor testicular, até um leve desconforto ou dor mais intensa na região escrotal, que pode piorar ao longo do dia, especialmente após longos períodos em pé ou durante atividades físicas. Além disso, pode vir acompanhada de sensação de peso ou desconforto. “Veias dilatadas podem ser visíveis ou palpáveis no escroto, geralmente mais notadas quando o homem está em pé e podem desaparecer ou diminuir de tamanho quando ele está deitado”.
O médico pode detectar por meio de exame físico, palpando o escroto enquanto o paciente está em pé e, às vezes, solicitando que ele faça a manobra de valsalva (assoprar com o nariz e a boca fechados) para aumentar a pressão abdominal ou mesmo via ultrassonografia. Com um maior risco para a infertilidade, a varicocele, quando não tratada, pode ocasionar atrofia testicular, causando redução no tamanho do testículo afetado, devi3do à pressão aumentada e pelo fluxo sanguíneo inadequado. “Embora nem todas as varicoceles causem dor, algumas podem resultar em desconforto crônico, que pode piorar com atividades físicas, longos períodos em pé ou ao final do dia. Essa dor pode afetar a qualidade de vida do paciente”, alerta Dr. Messina.
Além disso, pode provocar alterações na qualidade do esperma mesmo em homens que não estão tentando conceber, levando a uma menor contagem de espermatozoides ao longo do tempo, assim como motilidade reduzida e alterações na morfologia. “Isso pode tornar mais difícil a concepção futura, caso o paciente decida ter filhos posteriormente”.
A varicocele pode interferir ainda na produção de testosterona pelo testículo que foi afetado, levando a uma diminuição dos níveis do hormônio masculino, o que pode causar sintomas como fadiga, perda de massa muscular, depressão e diminuição da libido e, por fim, impacto psicológico, ansiedade e até depressão. Após o diagnóstico de varicocele, recomenda-se que os pacientes mantenham acompanhamento médico regular.
“É importante monitorar possíveis mudanças na condição, avaliar a função testicular e a qualidade do sêmen, além de identificar novos sintomas ou recorrentes. A frequência dessas avaliações pode variar dependendo da gravidade da varicocele e dos sintomas apresentados pelo paciente. O objetivo do tratamento é aliviar os sintomas, melhorar a qualidade do esperma e aumentar as chances de fertilidade”, explica o médico.
Detecção precoce da varicocele pela família
Diferentemente da mulher, que desde a adolescência procura o ginecologista de maneira preventiva para consultas periódicas anuais, o homem ainda tem um pouco de resistência em procurar atendimento médico de rotina. Neste sentido, a ajuda da mulher é fundamental e influencia positivamente na mudança de hábitos do homem. Ela pode incentivar a visita ao médico anualmente, a começar pelo pediatra na infância e se estender com a orientação de um urologista na adolescência. Esse comprometimento do homem com a sua saúde pode ter um impacto importante na expectativa de vida masculina. Comparativamente, as mulheres vivem sete anos a mais que os homens.
“Muitas doenças poderiam ser evitadas ou descobertas precocemente, facilitando o tratamento e melhorando as chances de cura ou controle. Segundo o Dr. Messina, o autoexame testicular nos homens deve ser estimulado, com campanhas nacionais – a exemplo de movimentos como o #vemprouro e encaminhamento aos serviços de saúde”, assegura.